quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Robson Borges

Imagens da Vida
(Crônica Polifônica ao Poema "Apostila")

Eram 5 horas da tarde quando a sineta da escola disparou pelas salas e corredores extensos, ali no Jardim Imperatriz. Todos se dirigem para suas casas com tamanha velocidade que até velocistas se surpreenderiam. Eu, porém, calmamente arrumei meus materiais e me encaminhei para frente da instituição.
Chegando lá, senti que alguém me observava enquanto pensava em ir para minha residência. Voltei-me e dei com uns olhos negros, grandes e parados como os de um bicho, a me espiar, junto ao meio-fio. Eram de um menino seco, raquítico, um fiapo de gente enconstado ao posto como um animal, não teria mais do que uns oito anos. Inclinei-me sobre ele:
_ O que foi?- Perguntei naturalmente, pesando tratar-se de esmola.
_ Nada não.- Respondeu-me um fio de voz.
_ O que é que você está me olhando?
_ Nada não. - Repetiu.- Estou esperando minha irmã.
_ Onde é que você mora?
_ Na rua Europa, no morro.
_ Vou para aquele lado. Quer me acompanhar?
_ Estous esperando minha irmã.
_ Eu aguardo.
Sentamos na pontinha da escada da escola, e enquanto as ruas ganhavam mais claridade, o garto ia olhando duro para frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:
_ Como é seu nome?
_ Milton Virgílio.
_ Quantos anos você tem?
_ Onze.
_ O que você está fazendo aqui, tão longe de casa, além de esperar a sua irmã?
_ Nós temos que trabalhar hoje a noite.
_ Vocês trabalham? Onde?
_ Sim, em um barzinho lá perto onde moramos.
Pela sua resposta, pude entender que lavava pratos, varria o chão e servia cliente em um estabelecimento frequentado pela baixa sociedade. Entrava cedo e saía tarde.
_ Hoje vou entrar mais tarde.
_ Você almoçou?
_ Não.
_ Você aproveita seu tempo?
_ Aproveitar o tempo? Não que eu saiba.
_ Você é honesto?
_ Mas é tão difícil ser honesto hoje em dia. Não?
_ Você deveria fazer um exame de consciência.
_ Quem é você para me dizer o que devo fazer?- E ele até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Suas feições de criança, sujas, encardidas de pobrezas, podiam ser as de um velho. Eu não me contia mais de tanta aflição.
_ Seu coração deve estar cansado como o de um mendigo.
_ Desde que comecei a conversar com você passaram cinco minutos. E ainda quer que eu aproveite meu tempo?
_ Se não o aproveite, o que saberei de outros minutos?
_ Aproveitar o tempo!...
Mal detive o que disse, me levantei. Dou uns passos a frente e olho para o menino pelos ombros.
_ Desculpe, tenho que ir.
Ando para o meio da avenida e me perco logo em uma mescla de barulho e confusão entre o tumultuoso trânsito.

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