domingo, 30 de agosto de 2009

Robson Borges

ROBSON BORGES (1993-) -Nasceu em São Paulo, foi para Barra do Garças no Mato Grosso e começou a escrever textos dos mais diversos gêneros a pedido das propostas de redação do professor de língua portuguesa Manoel João Milhomem Maciel. Suas principais obras são, "Aquecimento Global", "Resenha de Homem Feito" e "Festa, Vidas Secas".

Personagem: Aurélio
Sexo: Masculino
Idade: 40 anos
Características físicas: alto, magro, com aparência horrivel, sujo, com olhos grandes (pode representar a sabedoria adiquirida pela experiência).
Características psicológicas: desesperançoso, infeliz.
Detalhes da indumentária: vestia um pequeno shorte rasgado, pés descalços e peito à mostra.
Vocabulário: possui recursos verbais para discutir qualquer tipo de ofensa ou humilhação pela qual passa.

FESTA
(Graciliano Ramos e Robson Borges)

Fabiano, sinhá Vitória e os meninos iam à festa de Natal na cidade. Eram três horas, fazia grande calor, redemoinhos espalhavam por cima das árvores amarelas nuvens de poeira e folhas secas.
Ao portão do passeio, um mendigo estendeu-os a mão. Fabiano passou adiante, mas sinhá Vitória pensou em sua família e na época de sua fome, tirou dois reais do bolso e deu-os ao mendigo. Este beijou as moedas; sinhá Vitória pedia-lhe que rogasse a Deus por ela, a fim de que ela pudesse satisfazer todos os seus desejos.
-Sim, minha devota!
-Chamo-me Vitória, acrescentou para esclarecê-lo.
Seguiram.
Os dois meninos espiavam os lampiões e adivinhavam casos extraordinários. Não sentiam curiosidade, sentiam medo, e por isso pisavam devagar, receando chamar atenção das pessoas. Supunham que existiam mundos diferentes da fazenda, mundos maravilhosos na serra azulada. Aquilo, porém, era esquisito. Como podia haver tantas casas e tanta gente? Com certeza, os homens iriam brigar. Seria que o povo ali era brabo e não consentia que eles andassem entre as barracas? Estavam acostumados a agüentar cascutos e puxões de orelhas.
Em caminho, encontraram o ponto onde o ônibus que iam pararia. Baleia ao lado, observava o movimento das pessoas e dos veículos que a deixavam intimidada. Até a um ponto máximo em que um altivo decibéis a fez correr pela rua afora á procura de uma retirada rápida do local. A precipitada fuga da cadela fez com que a família de ex-retirantes se erguessem com tamanha velocidade que surpreenderam a si próprios. Á busca a Baleia, pelas vias publicas entre barracas e pessoas se tornou cansativa e frustante.
De repente, Baleia apareceu. Trepou-se na calçada, mergulhou entre as saias das mulheres, passou por cima de Fabiano e chegou-se aos amigos, manifestando com a língua e com o rabo um vivo contentamento. O menino mais velho agarrou-a. Estava segura, Tentaram explicar-lhe que tinham tido susto enorme por causa dela, mas Baleia não ligou importância à explicação.
No mesmo momento, mostrou-se o mendigo, antes atendido por sinhá Vitória, argumentando que supostamente encontrara a cadela perambulando por onde se encontrava até o momento em que recebera a espórtula. Fabiano com menção de agradecer pergunta ao pedinte quem era.
-Sou Aurélio, irmão de Tomás da bolandeira.
O sorriso se fez nos rostos do casal. Tomás com sua cama de couro e seu amplo vocabulário, se tornou objeto de desejo de Fabiano.
-Onde Tomás está? perguntou Fabiano.
As palavras: "Foi embora", ecoou na mente por um longo tempo na cabeça dos aparentes civilizados. Que fim teve seu Tomás.
A festa se tornou um velório tumutuoso e barulhento em meio à cidade.